• 24 de março de 2020
  • 0

Desembagador do TJma que superou H1N1 mantém isolamento e trabalha em casa

Jorge Rachid alerta a população e aconselha magistrados: “há necessidade que a gente saiba mexer com gabinete virtual, videoconferência e PJe”

O dia 23 de abril de 2020, “dia de São Jorge”, como destaca, estava marcado na agenda do desembargador Jorge Rachid, do Tribunal de Justiça do Maranhão, como o começo da realização de um sonho. A exemplo do que milhares de pessoas do mundo inteiro fazem todos os anos, ele pretendia iniciar, na data, a peregrinação rumo a Santiago de Compostela, na Espanha, onde, supostamente, encontram-se as relíquias do apóstolo Santiago Maior, na catedral da cidade. O percurso planejado, de cerca de 320 km, seria cumprido em etapas. Também fazia parte dos planos, comemorar o aniversário de 66 anos de idade, no dia 2 de maio, na região. Fazia. Em 8 de março passado, o surgimento dos primeiros sintomas, que culminaram, quatro dias depois, num quadro de tosse seca, acompanhada de febre e dores por todo o corpo, principalmente na cabeça, seria o prenúncio do diagnóstico confirmado em 12 de março: H1N1.

Passagens, hospedagens e o sonho tiveram que ser cancelados, temporariamente. Ironicamente, no momento em que o desembargador acreditava estar quase no auge da forma física para enfrentar uma jornada tão longa e difícil. “Eu procurei fazer o maior número de exercícios, às vezes caminhando na chuva, às vezes indo para a academia, em horários não muito republicanos e com ambiente fechado, com ar condicionado. Eu acho que essas coisas contribuíram para que eu tivesse o H1N1”, avalia Rachid.

LIÇÃO DE CASA – Antes mesmo de ter certeza que havia sido contaminado pelo vírus, mas já sabendo do surto de H1N1 que se instalava no Maranhão, principalmente em São Luís, ele agiu rapidamente, seguindo a orientação dos profissionais de saúde para conter o avanço do H1N1 e de outros, como o Coronavírus (Covid-19), que já se espalhava pelo mundo no começo de março.

“Logo que eu senti os primeiros sintomas, eu procurei me afastar, tanto do gabinete, como aqui na minha casa, onde moramos eu e minha mulher – meus filhos já têm vida independente. Imediatamente, eu fui para outro quarto, para não deixar que ela adquirisse também o H1N1. Fizemos esse acerto e, graças a Deus, ela não teve nada”, comemora Jorge Rachid, que ainda tornou público seu estado de saúde, por uma rede social, e seguiu as prescrições médicas, de repouso, medicamentos e muito líquido. “É importantíssimo você se hidratar”, frisa.

A mudança de rota, da bem próxima peregrinação pelos Caminhos de Santiago para a viagem ao isolamento completo no quarto, não abateu o desembargador. Manteve a rotina de acordar cedo e tomar o café. O local de trabalho foi que ficou restrito a sua casa, onde instalou seu gabinete virtual, conversando de forma remota com o pessoal de gabinete, colegas magistrados, advogados e familiares. Também adotou uma alimentação frugal. “E até ficou muito bom, porque eu já emagreci uns dois, três quilos. Não deixa de ser uma boa notícia”, vibra.

MEDO DE MORRER? – “Medo de morrer, todos nós temos. Eu não cheguei a ter esse pânico, porque foi logo detectado, e eu procurei me cercar de todo o cuidado possível, mas não deixei de ter uma preocupação grande, até porque a gente, num momento deste, fica, um pouco assim, incrédulo, achando que as coisas podem mesmo acontecer”, relata.

CURADO, MAS PRECAVIDO – “Eu já me encontro totalmente curado. Eu não tenho mais nenhum sintoma, já realizei o exame e já não foi detectado qualquer tipo desse vírus. No entanto, continuo com as mesmas precauções. Independentemente de estar bem, já curado, eu continuo no meu isolamento social, procurando falar com o mínimo de pessoas”, orienta Rachid.

Depois de aprender e se recuperar de um susto com o vírus H1N1, no momento em que o mundo vive uma pandemia de outra ameaça, o Coronavírus (COVID-19), o desembargador somente fica indignado quando fica sabendo, por meio dos veículos de comunicação e das redes sociais, que no mundo cá fora, do qual ele está fisicamente ausente desde 8 de março, que ainda há muita gente que teima em sair de casa em situações desnecessárias.

“Eu acho um absurdo as pessoas não terem consciência do que está ocorrendo. Temos que obedecer ao que o Ministério da Saúde está dizendo, está determinando, como o Governo do Estado – todos estão imbuídos dos melhores propósitos. Então, eu acho que as pessoas devem entender que nós devemos ter, preliminarmente, a consciência desse isolamento social”, ensina.

APOIO DE COLEGAS E PRESIDENTE DO TJMA – Jorge Rachid destaca que sua motivação para se recuperar e continuar trabalhando, embora apenas de casa, não seria a mesma sem o apoio dos colegas magistrados de 1º e 2º graus, dentre eles o presidente do TJMA, desembargador Joaquim Figueiredo.

“Primeiramente, quero agradecer a uma boa parte da magistratura, que me deu apoio, ligou, desejando minhas melhoras. Eu fiquei muito feliz por isso. Os colegas, também o nosso presidente, todos tiveram esse carinho comigo”.

Para eles, o desembargador deixa um conselho de quem está, há semanas, trabalhando virtualmente: “há necessidade que a gente aprenda e saiba mexer com o gabinete virtual, com a videoconferência e com o PJe, para que a gente possa desenvolver o nosso trabalho e também satisfazer a vontade do que a sociedade espera de nós”.

O SONHO CONTINUA – E a peregrinação pelos Caminhos de Santiago? Será que ele desistiu? “Infelizmente – ou felizmente – ainda não é esse o momento. Eu vou deixar para outra data. Talvez, se tudo correr bem, em setembro”, anuncia, esperançoso.

Deixe o seu comentário