Eleições 2016 não terão urnas eletrônicas

Por falta de dinheiro, as eleições municipais de 2016 serão realizadas manualmente. É a primeira vez que isso acontecerá desde 2000, quando todo o eleitorado brasileiro começou a votar eletronicamente. A informação de que o contingenciamento impedirá eleições eletrônicas foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira, 30.

Em 2014, 15% do eleitorado brasileiro usou urnas biométricas

De acordo com a portaria, os órgãos do Poder Judiciário da União sofreram contingenciamento de R$ 1,74 bilhão. O TSE, responsável pela organização das eleições no país, vai se manifestar, por meio de nota, ainda hoje.

“O contingenciamento imposto à Justiça Eleitoral inviabilizará as eleições de 2016 por meio eletrônico”, diz o artigo 2.º da Portaria Conjunta 3, de sexta-feira, 27. O texto é assinado pelos presidentes dos Supremo Tribunal Federal (STF), Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal Superior do Trabalho (TST), Superior Tribunal Militar (STM), Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) e respectivos conselhos.

A portaria afirma ainda que ficam indisponíveis para empenho e movimentação financeira um total de R$ 1,7 bilhão para STF (R$ 53,2 milhões), STJ (R$ 73,3 milhões), Justiça Federal (R$ 555 milhões), Justiça Militar da União (R$ 14,9 milhões), Justiça Eleitoral (R$ 428,9 milhões), Justiça do Trabalho (R$ 423 milhões), Justiça do Distrito Federal (R$ 63 milhões) e Conselho Nacional de Justiça (R$ 131 milhões).

Portaria do STF confirma impacto da falta de verba

As urnas eletrônicas foram usadas pela primeira vez em 1996, mas somente nas eleições de 2000 todo o eleitorado votou eletronicamente. Nas eleições de 2014, 762 municípios, entre eles 15 capitais, usaram a biometria nas urnas eletrônicas para identificar os eleitores. Ao todo, 21,6 milhões de pessoas foram identificadas pelo método, o que significa 15% do total de eleitores do país. (Com informações da Agência Brasil)

1 Comment

  • alex rodrigues

    dezembro 01, 12 2015 12:58:43

    As urnas eletrônicas e o controle das eleições
    Pesquisador contesta lisura das urnas eletrônicas. “Ao perder o controle de seu voto, o eleitor torna-se totalmente alienado pela tecnologia”, diz José Rodrigues Filho
    POR CONGRESSO EM FOCO | 26/11/2015 08:00
    CATEGORIA(S): ELEIÇÕES 2014, FÓRUM
    José Rodrigues Filho *
    Só depois de quase duas décadas de uso no Brasil, os legisladores brasileiros chegaram à conclusão de que a urna eletrônica é suscetível a fraudes. A comunidade científica nacional e internacional sempre foi desafiada, principalmente pela Justiça Eleitoral brasileira, que sempre afirmou que a urna eletrônica é confiável. Era de se esperar que, aos poucos, a sociedade brasileira e os eleitores fossem perdendo a confiança nesta tecnologia, rejeitada nas democracias mais avançadas. Além disso, há muito tempo que a comunidade científica nacional e internacional atestou, também, que a nossa urna eletrônica não é um instrumento auditável. O PSDB levou alguns meses para comprovar o óbvio. Mesmo assim, ainda existem alguns parlamentares que duvidam disso.
    Por conta da descrença dos legisladores brasileiros, foi aprovado, para ser usado já nas eleições de 2016, o voto impresso, como se isso viesse a resolver os efeitos maléficos das urnas eletrônicas. É um passo, mas não é a solução para resolver tamanha fragilidade e interferência das urnas eletrônicas na nossa democracia. É um passo, no sentido de se poder auditar uma votação eletrônica, mas a sociedade não pode permitir que as eleições sejam privatizadas e o ato de votar seja processado por urnas eletrônicas. Foi assim que a Alemanha considerou o voto eletrônico inconstitucional e outros países aboliram esse tipo de voto, a exemplo da Holanda. Até o Paraguai rejeitou o uso das urnas eletrônicas brasileiras. O que sempre foi orgulho dos brasileiros, é rejeitado no mundo desenvolvido.
    O voto do eleitor é o que existe de mais sagrado nas democracias e por ele deve ser controlado. Não existe certeza se, ao digitar o seu voto na urna eletrônica, o mesmo foi contabilizado, conforme foi votado, ou foi perdido por conta de um circuito eletrônico ou desviado para outro candidato. Ao perder o controle de seu voto, o eleitor torna-se totalmente alienado pela tecnologia. O controle do voto, essência da democracia, é repassado para as urnas eletrônicas (grandes corporações) e para os desconhecidos controladores delas, no dia da eleição. O PSDB parece ter desconfiado das urnas, mas o perigo maior parece não ter sido percebido e que diz respeito ao controle delas no dia das eleições. Essa é a grande questão que deve ser discutida pelos legisladores, ou seja, quem está controlando as urnas eletrônicas no Brasil. As urnas não fraudam, mas podem ser levada a isso por seus controladores.
    Assim sendo, o voto eletrônico no Brasil é um bullying material, institucionalizado no país pelos Poderes da República e grandes corporações, uma vez que o eleitor é retirado do controle do que lhe pertence. O ato de votar deve ser muito visível e materializado sob os olhos do eleitor, e não invisível, imaterializado ou desmaterializado pela tecnologia. É esse tipo de extorsão que as democracias mais avançadas não aceitam. O voto impresso, por sua vez, não resolve isto. Muitos países utilizam a cédula de papel para registrar, de forma apropriada, a escolha do eleitor (permitindo qualquer tipo de auditagem), e realizam a contagem dos votos eletronicamente, ou seja, por meio de códigos de barras.
    Há poucos dias, o Canada realizou eleições para escolha de seus membros do Parlamento. A cédula de votar foi emitida e os eleitores votaram na forma tradicional. A contagem de votos foi concluída poucas horas depois de finalizada a votação. Recontagens aconteceram, também, rapidamente. Diferentemente do Brasil, o que foi feito eletronicamente foi a contagem de votos e não o ato de votar.
    No Brasil a Justiça Eleitoral tornou-se muito poderosa com o voto eletrônico que aí está. A contagem rápida de votos deixava os eleitores orgulhosos dessa tecnologia e a Justiça Eleitoral cada vez mais poderosa. Porém, para a democracia, qual a qualidade dos eleitos? Depois de uma eleição tão cara, quais os efeitos positivos para a democracia? Depois de vinte anos, o país tornou-se mais ou menos democrático? A sociedade brasileira está mais participativa ou passiva?
    Os legisladores brasileiros devem repensar o controle das eleições no Brasil e, consequentemente, da democracia. O Brasil é um dos poucos países do mundo em que existe uma Justiça Eleitoral para administrar as eleições. Isso deve ser repensado, de modo que as eleições sejam controladas pelos eleitores, partidos políticos e pela sociedade, por meio de comissões eleitorais, como acontece em outras democracias avançadas.
    O que se observou, lamentavelmente, na votação de derrubada do veto do voto impresso é que o Executivo estabeleceu a forma de votar, a pedido da Justiça Eleitoral, contrariando as decisões do Parlamento. Pior do que isso, a Justiça Eleitoral parece ter definido que, nas próximas eleições, o voto impresso não vai ser implementado, por questões técnicas. A questão principal é que a Justiça Eleitoral vai ter muitos problemas com o voto impresso, como já aconteceu em outras partes do mundo, não podendo, talvez, fornecer o resultado das eleições poucas horas depois de realizadas. Isso pode significar perda de poder e muita confusão, com os frequentes pedidos de recontagem de votos. Por fim, a tecnologia de voto eletrônico e administração das eleições no Brasil precisam ser repensadas pelos legisladores para torná-las transparentes aos olhos da sociedade, eleitores e partidos políticos, fato que não acontece com as atuais urnas eletrônicas.
    * Professor da Universidade Federal da Paraíba, foi pesquisador nas Universidades de Harvard e Johns Hopkins (EUA). Atualmente é professor visitante na McMaster University (Canadá).

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